domingo, 7 de março de 2010

Prato Frio

A rua estava deserta e o único ruido que lhe chamava a atenção era o daquela luz de neon que em uma sincronia incompreensivel piscava tentando roubar-lhe a direção. Não queria acreditar que aquela fora a ultima vez que os seus sonhos se misturariam com os dela sob os mesmos lençóis. Se pudesse perpetuaria o movimento, perpetuaria aquele momento. Tudo poderia sim ali terminar desde que terminassem em sincronia. Como admitir que ela continuaria a sonhar em outros braços e abraços e lençóis? Como admitir que por ali passariam outros passos e que aquele neon roubaria a direção de outro alguém? Não. Não suportaria. Mas essa dor brigaria com a verdade pungente daquelas palavras que ainda ecoavam em seus ouvidos. Bastou que ela mostrasse seu avesso, rasgasse sua epiderme. Porque não calou? Porque não se contentou? Porque simplesmente não mentiu, omitiu, fingiu? Não bastava somente mandar ir embora, tinha que lacerar, marcar. Acreditou que exterminaria o desejo com palavras ardilosas. Enganou-se. Instigou algo perigoso. Orgulho, brio, vaidade, ira. Se arrependeria...

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