
Eu sempre prestava atenção nos dedos da mão esquerda dele.
Não paravam nunca. Via musicalidade em tudo o que escutava. E no que via também. Podia ser minha avó na cozinha. Podia ser a janela aberta e a confusão armada do lado de fora. Podia ser ele tentando consertar algo em seu templario barracão com martelo em mãos. Fazia de qualquer movimento uma partitura.
Dizia:
-Voce tem que observar em qual parte do seu corpo essa canção toca.
As vezes eu ficava tentando entender. Procurava onde, como se fosse uma questão de busca. Com o passar do tempo sem que eu buscasse absolutamente nada, começava a tocar um sorriso, um levantar de sobrancelhas, um acelerar de coração, um dois pra lá e um pra cá. Começava a tocar uma vontade de beijar ou de abraçar. Começava a tocar uma vontade de dançar.
Meu avô, sábio que era, me ensinou a sentir. Através da musica que era sua escola. Até hoje faço esse exercicio, que se tornou absolutamente parte do meu ser. Quando escuto uma musica tento perceber onde ela me toca. Quando conheço algum lugar ou alguma pessoa também. Quando lembro de meu avô o que me toca é essa lagrima que corre em meu rosto. De saudade. De muita saudade.
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